Novo Índice de Sustentabilidade da Comida, lançado pela revista ‘The Economist’, é o primeiro instrumento que monitora a maneira que a humanidade come.
A humanidade já tem um primeiro instrumento de monitoramento da maneira em que come: trata-se do Índice de Sustentabilidade da Comida, a nova ferramenta lançada pela Unidade de Inteligência da revista The Economist, em parceria com o Centro Barilla sobre Comida e Nutrição. Se baseia em três grandes setores – agricultura, nutrição, perdas e desperdício – pontuados a partir de 43 indicadores. Já a notícia ruim é que – num contexto global já longe do desejável – o Brasil apresenta um desempenho péssimo: vigésimo-segundo entre os 25 países analisados nessa primeira edição. Os que se dão relativamente melhor, no conjunto, são os européus, liderados pela França, além de Japão, Coreia e Canadá. Mais interessante é cruzar dados setoriais, o que permite captar tendências, além da fotografia estatística. Nesse aspecto o trabalho é primoroso, com planilhas amigáveis e transparentes.
Por exemplo, os EUA se confirmam um desastre em sobrepeso, mas sinalizam que iniciaram a reagir, mesmo tardiamente, pois seu desempenho entre os menores de 18 anos é relativamente melhor. O contrário acontece com o Brasil, onde a situação dos adultos ainda está na média mundial, mas se torna calamitosa quando focarmos as crianças e adolescentes, entre os quais estamos próximos da lanterna: prenúncio de custos sociais explosivos. Da mesma forma é possível destacar os nichos: a Itália lidera em agricultura orgânica, com 10% de sua área agrícola nessa modalidade, mas apesar disso fica em posição mediana quanto a uso de agrotóxicos no cultivo convencional. Na agricultura, o Brasil se revela mais uma vez o país dos paradoxos. Por um lado lideramos com folga em todos os indicadores de biodiversidade no campo; por outro, temos o sistema agrícola mais concentrado do mundo, com os principais três produtos que perfazem mais de 80% da produção.
O setor que mais prejudica o desempenho brasileiro é o de perdas e desperdício, onde ficamos mal não apenas no quesito perdas – característico de países menos desenvolvidos, com infra-estrutura deficiente – mas também no desperdício pós-consumo, síndrome que afeta tipicamente mais as sociedades ricas. Há pelo menos três questões críticas que precisam ser aprimoradas no índice: a primeira é a necessidade de inserir indicadores adequados sobre a gestão pesqueira. Outra diz respeito a considerar melhor os fluxos comerciais globais e transporte, pois muitos países externalizam boa parte de sua pegada importando comida. Isso probabilmente iria melhorar um pouco a ficha dos países em desenvolvimento. A última é a mais desafiadora, como metodologia, porém crucial em termos de impacto na sustentabilidade: falta inserir no índice indicadores que reflitam o segmento da cozinha! É o caso de ponderar itens como a refeição no lar, a difusão da cultura gastronômica, a formação de profissionais da cozinha, o desenvolvimento da culinária regional, das indicações de origem… em suma, toda a cadeia gastronômica. Não dá para avaliar como comemos sem avaliar, também, como cozinhamos. Mas independentemente das limitações que caracterizam qualquer inovação, era hora de termos um instrumento global de análise como esse, elaborado por um grupo altamente influente, e à disposição de academia, indústria, profissionais e consumidores.
Fonte: http://www.aveworld.com.br